VARIG – NOS TEMPOS DE HELIO SMIDT

VARIG – NOS TEMPOS DE HELIO SMIDT

Um presidente de corpo e alma

Até a minha saída da Varig, depois de quase quarenta anos de serviço, convivi  com todos os presidentes históricos. Um deles, no quesito “gente”  foi Helio Smidt, com quem tive um relacionamento  pessoal e profissional, intenso. Ocupando o cargo de gerente regional  de propaganda e imprensa e depois diretor  e um dos fundadores da  Expressão Brasileira de Propaganda, Agência do grupo, sempre que ele vinha ao Sul eu o recebia no aeroporto junto com a diretoria, quando era definida estratégia para o encontro com a mídia local, interessada em saber das novidades da marca Varig, então uma expoente na aviação  mundial. Na época, os mais importantes órgãos da imprensa brasileira tinham  sucursal em Porto Alegre,  e qualquer novidade virava notícia nacional, as vezes com repercussão no exterior. Hélio Smidt tinha um carisma pessoal,  personalidade cativante. Era atencioso com todos mantendo  uma postura de  gentleman .A vitória mais simples ele comemorava como uma conquista  –  quando bolou um guardanapo especial anexado num dos botões do  vestuário do passageiro, brindou com o pessoal de bordo, mandando acrescentar no cantinho da peça HS bordado

Helio Smidt quando presidente da Varig, fez sua última aparição pública em Porto Alegre. no Palácio do Comercio, dissertando sobre a aviação comercial e a modernização da frota da Varig.

 

Ele  ingressou na Varig aos 19 anos como auxiliar de escritório, convidado pelo seu tio (Ruben Berta) na época presidente da empresa, Teve que abandonar seu emprego na Nestlé onde tinha iniciado aos 13 anos de idade permanecendo  por 7 anos,  para aceitar o  convite ganhando 170 mil reis (salário mínimo na época) Recém chegado a empresa recebeu a missão de viabilizar economicamente a pioneira linha aérea que ligava Porto Alegre à cidade de Rio Grande. Sem carga para carregar no voo de retorno, o jovem chefe do departamento de vendas imaginou transportar filé de lingado congelado para capital gaúcha.. A iniciativa obteve êxito e com ela uma carreira promissora
Mais tarde, Smidt sentiu-se naturalmente tentado  a seguir uma carreira como piloto, mas foi surpreendido por Berta tendo de interromper o curso. Transferido para o Rio de Janeiro, em 1946,foi para São Paulo em 1950. onde morou por 18 anos. Após12 anos do seu ingresso na companhia em 1957, assume o cargo de diretor regional e, em 61, galga ao posto de diretor de administração do conglomerado formado com a aquisição da Real Transportes Aéreos e outras empresas de menor ´porte. Posteriormente acompanhou  a incorporação das rotas da Panair, com os aviões da Varig assumindo os voos para a Europa, num prazo de 24 horas.
O afastamento de Erik de Carvalho vitimado por um derrame cerebral, levou Helio Smidt à presidência da Varig em abril de 1980, época que o setor da propaganda e imprensa   manteve-se em evidência com a criação da Expressão Brasileira de Propaganda. Eu atendia o Setor Sul englobando  além do Rio Grande do Sul, minha sede, Santa Catarina e Paraná . Assim como  acontecia aqui, sempre que o presidente se deslocava para qualquer  dos dois estados vizinhos eu estava presente, acompanhando seus passos, coisa que gerou admiração mútua mais intima entre nós, até amizade..   Certa  vez, ele foi conduzido para ser entrevistado num canal de televisão em  Curitiba. Antes, dei um panorama da situação da capital  sob vários aspectos, anotando nome dos entrevistadores e outras coisas mais. Como eu esperava  ele deu conta do recado de forma brilhante. No final, quando entravamos no hotel ele pediu minha opinião. Na  verdade foi excelente, argumentei: “apenas um pequeno detalhe foi esquecido – num evento dessa magnitude responder com mão no bolso não é o melhor comportamento” e caímos os dois em gargalhadas. Fatos, assim, demonstravam o grau de intimidade que se criou entre nós, como um time bem treinado que sabe jogar em conjunto..

Na época eu editava a Revista Espaço Aéreo de minha propriedade sem prejudicar atividade na empresa. Ao contrario, servia como bandeira nos interesses da companhia o que somava pontos junto a direção e colegas. Especializada em aviação e turismo nunca teve concorrência nos 20 anos que existiu O assunto abordado, pela sua relevância , mereceu capa, que por sua vez deixou o presidente entre surpreso e encantado. Em seguida , no estilo Berta, num dos seus famosos bilhetinhos. expressou sua satisfação – “Prezado Albuquerque- Grato pelo “tiro” disparado em tua última edição e principalmente pela foto que até eu mesmo desconhecia. A reportagem está ótima e bastante ilustrativa. Excelente mesmo. Meus parabéns em nome de vocês todos. Meu obrigado e abraço” Hélio Smidt

Mesmo eleito presidente, ele achava tempo para  confraternizar, especialmente quando o evento reunia membros do Colégio Deliberante da Fundação  O pessoal de São Paulo organizou um torneio de futebol sete (Taça da Amizade) para inaugurar a cancha  no Recreio Chuvisco. O nosso time era muito bom e derrotou paulistas e cariocas. No final houve agradável confraternização. Helio  fez questão de entregar o troféu de campeão, que coube a mim receber, como capitão do time gaúcho, Outro momento que marcou nossa amizade, aconteceu em Porto Alegre, na festa da comemoração dos meus 35 anos de Varig, junto com demais colegas agraciados  pelo mesmo motivo. O diretor regional, Erni Peixoto, se movimentou para participar da entrega do diploma, e um distintivo de lapela mas quem veio ao nosso encontro (Geny estava comigo) foi o presidente e sua esposa, dona Norma  – ele  fazendo sinal para o colega segredando – ” Esse é meu”

Voltando a morar no Rio de Janeiro  ele descobriu que sofria de câncer. Então iniciou uma série de  viagens aos Estados Unidos a fim de  buscar tratamento. Ao invés de  passar  seus dias de folga ( ele continuava trabalhando) podendo usufruir qualquer grande capital do mundo, preferiu o balneário de Imbé, onde havia passado os dias inesquecíveis da juventude. A família  adquiriu bela casa  fronteira ao “Lago Morto” que recebeu o nome de Hélio Smidt,(ainda em vida) numa homenagem merecida, iniciativa da Prefeitura Municipal  prontamente atendida.Quando assumiu o comando da Varig, nos anos 80, Smidt logo buscou por em prática um plano de modernização da frota, dando continuidade a direção que estava sucedendo… Apesar de enfrentar sérias dificuldades, pela política vigente no país, conseguiu vencer obstáculos quase intransponíveis, alcançando seu intento. – implantou no Brasil a era do jato com a aquisição do espetacular  Boeing 747 – 300,( maior jato comercial do mundo) e revigorando a frota com os notáveis  MD-11 e 767 – 300. chegando a nível de excelência. Modernizou o equipamento  da Cruzeiro  e da Varig com a introdução do Airbus, oferecendo excelente padrão de conforto aos passageiros

Após exatos 10 anos na presidência da Varig, em 11 de abril se 1990, a doença o vitimou aos 64 anos. Faleceu no Memorial Sloan-Kettering Hospital, em Manhattan. Seu corpo foi trazido ao Brasil num DC-10-30 da empresa. Seus restos  mortais, numa última  viagem entre os aeroportos de Guarulhos e Congonhas, foram transportados por um Electra, seu avião preferido

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