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Mês: Janeiro 2023

NELSON JUNGBLUT 

NELSON JUNGBLUT 

A  “FERA” DOMADA

Os calendários da Varig dos anos 60/70, em especial,  levando a assinatura de Nelson Jungblut  diretor de artes da companhia, eram aguardados  com grande expectativa, pois passaram a ser peças únicas, colecionadas avidamente pelos clientes ansiosos em exibir sua parceria com a Pioneira. Cada ano recebia um tratamento especial, consideradas verdadeiras obras de arte, impressas em silk – scrin, uma técnica inovadora na época, realizada nos estúdios da Propaganda, em Porto Alegre, capaz de usar um número incrível de cores e contrastes.  Aparecia num momento em que a Varig tinha sua estratégia de comunicação voltada para a mídia eletrônica, onde o radio e a televisão eram mídias distinguidas com polpudas verbas publicitárias.. O trabalho de Nelson representava um importante reforço institucional de marca, que pela beleza  e originalidade era recebida como  destaque na imprensa especializada.  Conseguir um exemplar do Calendário era proeza que o distinguido exibia como troféu.

Conviver com Nelson seriai meu teste definitivo  no novo cargo. Domar a “Fera” como era conhecido, com seus rompantes, aparentava missão difícil de ser cumprida sem evitar atropelos, segundo bilhetinhos de colegas do Rio  e São Paulo’ que apareciam na minha mesa. em envelope fechado – desafio que me aguardava com visão nebulosa. Aquela manhã aprazível era prenuncio de mais um dia calmo e produtivo, até que, inesperadamente, transformou-se num ambiente de beligerância. Ele invadiu a sala  sem ser anunciado. Aparecia como se tivesse  com quatro pedras nas mãos. Entrou de supetão direto sem qualquer  saudação.- “O que estas fazendo aí na mesa do Acauan ? Respondi com sarcasmo -“Contando ovelhinhas”  Em seguida entrou a Neusa, minha secretária já treinada, com o cafezinho da paz, pondo agua fria na fervura. Então expliquei com calma cada detalhe – O Acauan tinha se aposentado – Eu era jornalista formado pela PUCRS, com bolsa de estudos dada por Berta. Fora transferido para a Propaganda para dar continuidade a edição da Revista Rosa dos Ventos, agora de responsabilidade da Superintendência. Estava no cargo vago, de forma  provisória e tinha pouco relacionamento com o  Adoniram.Araujo, novo titular do Setor no Rio de Janeiro  (egresso da Panair) por indicação do presidente Erik de  Carvalho

 Acalmada a fera, senti que precisava ainda ser domada. E logo surgiu a oportunidade. Na época Nelson se desdobrava com a sua criatividade. Os calendários da Varig passaram a ser um diferencial de marca. Sempre na busca da perfeição, sugeriu que a impressão fosse feita  em serigrafia, técnica pouco conhecida no mercado, com resultados surpreendentes. De pronto aderi à iniciativa, conseguindo espaço e aquisição do material  necessário. Por sua vez, por solicitação, admiti seu irmão  Nilo Jungblut, para completar a equipe, dado o conhecimento  adquirido sobre o assunto (silk – screen). Adoniram ficou de nariz torcido, pois tudo foi feito por minha conta, mas terminou aceitando, dado o sucesso do empreendimento. (acrescente-se ao fato de ficar livre  por um tempo da sombra que incomodava)

Com a presença de Nilo (a esquerda ao meu lado) num encontro de confraternização. O projeto ganhou corpo atingindo o apogeu, com as exigências de Nelson cumpridas à risca, num ambiente de parceria e comprometimento – formula do sucesso.

Os primeiros calendários, ideia de Cristovam Rios então diretor de Propaganda, utilizavam somente fotografias. Eram impressos no Uruguai onde estavam as melhores gráficas. Quando Nelson assumiu o Departamento, ampliou as dimensões dos calendários tornando-os mais vistosos, introduzindo ilustrações seguindo tendência existente nas grandes companhias internacionais de aviação, como Swissair, KLM e Air France. O calendário ganhou 12 estampas e o tamanho de 30 centímetros de altura ampliou para 80, dando ao colorido das pinturas um significado dominante…

Por sua vez os cartazes também seguiram novos conceitos –  as fotos, que antes se repetiam como  lugar comum, passaram a exibir apurada técnica valorizando figuras típicas de cada região tornando-se únicas, dando lugar a forte  presença da marca, isoladamente, tendo o logo da Rosa dos Ventos  (criação de Jungbluth) quase invisível no pé da arte, eliminando a presença do Icaro, abdicando, corajosamente, da presença do avião. O conjunto dos detalhes além da  beleza, contribuía para realçar uma estratégia de comunicação inovadora, com  premiação no Brasil e no Exterior exibida nas vitrines das Lojas de Passagens da Varig no mundo, incluindo Agências de Viagens e Turismo, diversos locais públicos e empresarias, todos ansiosos em mostrar sua parceria com a Varig

No final, formamos em Porto Alegre uma equipe coesa. Pessoalmente, eu dava presença diária  na oficina incentivando  o trabalho do Nilo, muitas vezes junto com o próprio Nelson, apoio que terminou transformando o limão azedo numa saborosa limonada (caipirinha) sorvida no churrasco em grupo, que marcava a comemoração de cada vitória. Tempos depois, já aposentados, compareci na concorrida seção de autógrafos do belo exemplar que mostrava a exuberância da sua obra e o quanto Nelson  era reconhecido pelo seu  trabalho  Recebi com emoção o autografo – ” Para o Mario, com todo o amor e amizade, de um colega da Varig”  – Nelson Jungbluth. Um afetuoso abraço selou a  parceria, marcando parte inesquecível da nossa história de vida na Varig.

Missão cumprida – Nelson realizou seus sonhos e tornou-se um companheiro calmo e solicito ao dialogo, consagrado pelo conjunto da obra. Eu, orgulhosamente, me deixava fotografar tendo na retaguarda o colorido das obras de arte do colega e amigo que corriam o mundo pelas asas da Varig

FESTIVAL DE CINEMA

FESTIVAL DE CINEMA

Decolagem de Gramado nas asas da Varig

Kikito, estatueta criada pela artesã Elisabeth Rosenfeld – premio máximo concedido aos vencedores, com a chancela da Varig, Transportadora Oficial

 

Recém tinha assumido a Propaganda, quando recebi uma convocação do diretor Erni Peixoto, solicitando  a minha imediata presença em sua sala. Atendi, prontamente, sem saber o motivo da urgência. Lá chegando, fui apresentado ao jovem Romeu Dutra, que se dizia secretario de turismo da cidade serrana de Gramado e ´ponderava a possibilidade de dar continuidade as conversações entabuladas com meu antecessor. Peixoto ausentou-se da sala para tratar outros assuntos e nos deixou à vontade, numa frase final – “É gente nossa” Depois fui saber que ele tinha residência de veraneio na cidade e adorava o clima, as paisagens ,e  sua gente, com a comida típica dos alemães. E apostava no sucesso do empreendimento (coisa que lhe valeu o titulo de “Cidadão Honorário”.

A beleza de Gramado era incomparável . Da visita, resultou matéria de capa em nossa revista Rosa dos Ventos. com a chamada — GRAMADO UMA FESTA PÉRMANENTE DA NATUREZA. Os exemplares também circulavam nas lojas de passagens da Varig, no Brasil e Exterior, expondo um recanto que poucos imaginavam existir na América do Sul.

 

Eu conhecia Gramado de passagem, considerando minhas incursões com a família, mais no inverso, reservando o verão para a praia como todos faziam. O assunto versava sobre um pretenso apoio para uma inciativa arrojada que considerava fundamental para o desenvolvimento do turismo na região  –  arma que considerava essencial para o progresso. A presença da Varig era fundamental-  usar a força da marca e seu poder de comunicação dando credibilidade ao projeto, transformando a cidade na capital do cinema brasileiro.

Uma vez oficializado, o Festival de Cinema de Gramado ganhou apoio irrestrito da Varig/Cruzeiro, então voando juntas, transformando o evento em sucesso internacional

 

As raízes do Festival do Cinema em  Gramado, que completou 50 anos bem vividos de forma ininterrupta, teve história marcada com a presença da Varig, desde os anos 70. na 15ª edição. A ideia surgiu da popularidade de um evento realizado ao longo da Festa das Hortèncias liderado pelo prefeito da cidade Horst Volk e o secretário de Turismo Romeu Dutra. No inicio chamada “Mostra de Cinema” (realização da Caldas Jr) ganhou notoriedade a partir  de 1973, quando o Instituto Nacional do Cinema (INC)  oficializou o evento junto a Prefeitura Municipal (através da Associação de Cultura e Turismo de Gramado) com suporte do Governo do Estado do RG: Governo Federal e Assembleia Legislativa do Estado, ganhando o selo de “Festival de Cinema de Gramado.” Essa vitória teve participação ativa da Varig, valorizando o evento  com sua marca dando apoio irrestrito, propiciando seguidas viagens de Romeu Dutra para Brasília e outros setores estratégicos, munido de farto material institucional e análise técnica, na possibilidade de conseguir para a região novo polo turístico à nível nacional

Em 1973, Darnele Glória ( foto) recebeu o premio de melhor atriz do Festival, relembrado 15 anos depois na Noite das Estrelas

 

O primeiro Festival de Cinema Brasileiro de Gramado, em caráter oficial, aconteceu em janeiro de 1973, tendo o filme -Toda a nudez será castigada  de Arnaldo Jabor o grande vencedor, cabendo a Darnele Glória, o premio de melhor atriz do Festival Já aos 15 anos de existência, contando com Varig e Cruzeiro  voando juntas, o Festival ampliou seu raio de ação chegando ao exterior na sombra dos jatos.  A credibilidade da Varig que liderava a operação garantiu um salto de qualidade, transformando num espetáculo mágico  com artistas famosos desfilando sobre o tapete vermelho do Palácio dos Festivais ( antigo Cine Embaixador).aumentando a qualidade das produções ganhando insuperável mídia expontânea. Mais de mil kikitos (Deus do amor) foram distribuídos entre profissionais do cinema que venceram em diferentes categorias.

Em cada Festival o final era apoteótico. Os laureados reuniam-se para foto histórica, erguendo o Kikito e outros símbolos de vitória.
A adesão da Varig não se resumiu no simples papel de transportadora oficial, mas na integração de todo o projeto de marketing, usando as ferramentas que a tornaram conhecida fórmula certa para qualquer iniciativa diferenciada. Nas Lojas de Passagens, no Brasil e Exterior, o Festival passou a ser mostrado através de folhetos ilustrativos de qualidade  criados pela Varig e cartazes que levavam a assinatura de Nelson Jungblut., além, de vídeos promocionais.

No coração de Gramado o Parque Knorr, com características da Floresta Negra na Alemanha, e o mega projeto. da Rede Tropical de Hotéis, que ficou no papel.

A sinergia entre as duas partes ganhou tal ênfase, que  a Varig usando a Rede Tropical  de Hotéis, em acordo com a Prefeitura Municipal, através de comodato, viabilizou  a construção de um hotel turístico de alto nível localizado junto ao Parque Knorr, no coração da cidade que, no entanto, por motivos administrativos, não teve tempo de ser concretizado. A presença da Varig tornou-se o embrião dessa grande decolagem, ajudando a construir um evento que orgulha todos os gaúchos.

ÍCARO DE BORDO – FENÔMENO EDITORIAL (PARTE 2)

ÍCARO DE BORDO – FENÔMENO EDITORIAL (PARTE 2)

Um vitorioso “Case de Marketing”

A revista de bordo Icaro, nos anos 80, nasceu como opção de lazer e entretenimento para os passageiros dos modernos jatos da VARIG, tornando-se leitura obrigatória  levada também como suvenir de inesquecíveis viagens. A matéria sobre Gal Costa, ganhando destaque de capa, serviu para dar  ideia do layout da revista, qualidade do texto  (resumido) e beleza das fotos, num conjunto  harmonioso que premiava os leitores com seu conteúdo. Incluía ai as próprias mensagens publicitárias, criadas exclusivamente pelas agências, visando um público alvo qualificado, além da oportunidade única de mostrar seu talento, pondo assinatura numa obra capaz de desfilar numa passarela  que abrangia o planeta terra.

No início a revista tinha circulação bimestral. Depois do exemplar nº 16 passou a ter edição mensal,, triplicando o número de páginas com anunciantes aguardando na fila de espera para não quebrar o planejamento editorial  (divisão entre matéria e anúncio) –  todos havidos colecionadores. O salto para novos rumos abrangeu a oferta de assinatura anual  (12 exemplares) para clientes fiéis, recebendo  adesão imediata. O próximo passo  garantiu resposta avassaladora, oferecida em venda avulsa nas bancas de revista dos aeroportos brasileiros (depois no exterior)- estratégia divulgada antes, timidamente, no Expediente; Equipe consagrada de mestres da fotografia percorria o mundo  voando em céu de brigadeiro para mostrar aos passageiros/leitores o que  existia de mais  belo nesse mundo conturbado.. Era uma descoberta de personagens e lugares, trazendo em cada foto, cada emoção, cada pessoa, tudo  que  a Ìcaro viveu e mostrou –  desde as grandes capitais do mundo até os mais inóspitos  lugares e ambientes, esbanjando  conhecimento e saber, com sua gente, crenças e costumes num ângulo inusitado,  salientado por Ricardo Kotsche na famosa edição do numero 100, em que seguiram-se outras tantas.

Até o exemplar 14, a Icaro era distribuída apenas em voos nacionais, com circulação bimestral, preparando um salto estratégico de crescimento A partir daí, passou a ser mensal, duplicando seu número de paginas e exemplares oferecidos a bordo

 

 A arte era mostrada na sua essência valorizando mestres da pintura e das artes, sem esquecer as crônicas  e humor de gente nossa , como Mino Carta, Fernando Sabino, Millô,  Luis Fernando Verríssimo e Jô Soares, O jipe de reportagem da Icaro  era um boeing que cruzava  o mundo. A curiosidade em descobrir novas paragens e revelar o país  acabou dando o tom da revista. Vinhos gaúchos, café,  frutas, carros, aço, gado, sapatos, tecidos, um a um nossos principais produtos de exportação foram ocupando aa capas e páginas centrais da Icaro, que se tornaria uma grade vitrine do Brasil circulando pelo planeta . Mas, além de paisagens e produtos, a revista nunca parou de mostrar desde o seu inicio a arte do pais em todas as suas  manifestações.  Muito se deve aos fotógrafos brasileiros com suas câmaras sensíveis e cabeças lúcidas que se lançaram mundo a fora num fecundo corpo -a – corpo com a realidade em constantes transformações. Com igual valentia e sensibilidade eles se aventuravam pelas solidões das escarpas do Monte Roraima, minas da Bolívia e praias de Abidjan. Eram pelo menos oito viagens por ano que podiam envolver tanto as  fervilhantes ruas de Osaka no Japão, um persistente cerco ao escritor  Mario Vargas Llosa, no Peru, ou o encontro com a insólita beleza do Mar Morto, em Israel.

Icaro assumiu sua grandeza festejando a centésima edição, como uma das revistas mais lidas no pais e grande presença na mídia classe A alcançando liderança mundial no segmento
A presença de grandes escritores, artistas consagrados, fotógrafos renomados e diagramação exuberante, fizeram dela referência de qualidade, encantando os seus leitores que passaram a ser colecionadores, logo atendidos através de assinaturas

Nas páginas da Icaro, num lance genial, a Varig criou o  Air Shopping, passando a oferecer em pleno voo uma série de peças promocionais ostentado a logomarca cobiçada exibida na revista com entrega imediata quando do desembarque. Além do ganho mercadológico, a Varig ficou livre (ou quase)  de um constrangimento causado pela  ânsia do passageiro em levar alguma peça como suvenir que marcasse a sua viagem . Ia de caixa da fósforo à talheres  finíssimos da Hercules, disputados na primeira classe, além  de artigos essenciais para a segurança de voo como salva-vidas, retirados sorrateiramente  da parte inferior das poltronas.

Do irrecusável desejo do passageiro em levar alguma lembrança do voo, nasceu a ideia do Air Shopping, juntando o útil ao agradável

 

O próximo passo seria a edição em japonês (Los Angeles -Tóquio) com circulação bimestral (20 mil exemplares). O cuidado com a versão japonesa segue o mesmo cultivado com a edição do  lançamento em inglês – produzir um texto que não pareça tradução. O conjunto da obra  tornou-se um dos mais significativos “Cases de Marketing” do gênero, na aviação comercial, colocando a Companhia gaúcha no patamar dos ” best –  seller” editoriaisA revista de bordo da Varig em sua trajetória tornou-se referência no setor merecedora de prêmios internacionais no segmento.

A presença de grandes escritores, artistas consagrados, fotógrafos renomados e diagramação exuberante, fizeram dela referência de qualidade, encantando os seus leitores que passaram a ser colecionadores, logo atendidos através de assinaturas