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Mês: Setembro 2022

ADROALDO MESQUITA DA COSTA – UMA FIGURA LENDÁRIA  (Parte 3/3)

ADROALDO MESQUITA DA COSTA – UMA FIGURA LENDÁRIA  (Parte 3/3)

Segredos nunca revelados 

A queda de Getúlio  Vargas, em 46, representou o fim do regime totalitário do Estado Novo e a busca da democracia de eleições livres. Antes de recolher-se ao exilio voluntário na sua fazenda de Itu, no Rio Grande do Sul,, Getúlio havia criado o PTB, visando, estrategicamente, sua volta ao poder na primeira oportunidade –  o que viria a acontecer logo em seguida (1952) Impedido de participar do evento, indicou o Marechal Eurico Gaspar Dutra  para concorrer pelo partido, Existia grande afinidade entre ambos. Dutra havia – sido Ministro da Guerra, por nove anos, durante o Estado Novo. Junto, por indicação de Vargas, foi “encaixado” o advogado  Adroaldo Mesquita da Costa para ocupar o cargo de Ministro, da Justiça cuja credibilidade e capacidade profissional ultrapassavam fronteiras

Vencedor do pleito travado  contra o Brigadeiro Eduardo Gomes,, o Marechal Eurico Gaspar Dutra era  considerado, na política, cria de Vargas, de quem fora seu Ministro da Guerra por nove anos, durante o Estado Novo. Junto despontava a figura de Adroaldo Mesquita da Costa, como  Ministro da Justiça (1946/1950),figura historicamente ligada a Varig. Foi um período de crescimento do país, apoiado por norte-americanos, que encontraram a companhia gaúcha numa faze de afirmação, com a expansão das linhas e modernização da frota respaldada pela aquisição dos Douglas – DC-3 e Convair C-46  A  Varig viveu a implantação da Fundação dos Funcionários, dando a  Ruben Berta o comando da empresa como presidente, marcando o início de uma liderança inconteste, numa nova era voltada para a prosperidade.

Antes do exilio em São Borja, Getúlio criou o PTB, apoiou Dutra e indicou Costa e Silva como Ministro da Justiça. Estava montado o quadro para sua volta triunfal com o “queremismo” nas próximas eleições democráticas

O ingresso de Erik de Carvalho na Varig aconteceu um ano depois da minha admissão. Enquanto ele fazia dissidência na Panair, Mesquita da Costa ajudava Berta  a percorrer os caminhos nebulosos na conquista da congênere  –  Berta  enxergou à luz no fim do túnel e a Varig se deu muito bem com tudo isso Por sua vez, pouca gente sabia de que Adroaldo Mesquita da Costa, vinha a ser tio (por parte de mãe) do futuro presIdente, Costa e Silva, gozando por isso da intimidade das restritas decisões. Era personagem respeitada e historicamente envolvida com a existência da Varig e seus interesses através dos tempos. Dentro do governo militar tinha trânsito livre, deixando as portas abertas para Berta – (sem trocadilhos) Convidado por Castelo Branco assumiu o cargo de Consultor Geral da República, função que exerceu de 1964 ate 1967., acompanhando a polêmica entre Varig x Panair. Berta não tomava qualquer decisão política mais arrojada sem o aval do Consultor da República.

Detalhe decisivo nunca revelado na mídia – Adroaldo Mesquita da Costa era tio, por parte de mãe, do futuro presidente Costa e Silva – Portas abertas para Berta

.Mesquita da Costa manteve aproximação com os militares. No governo de Eurico Gaspar Dutra fora chamado para colaborar assumindo o Ministério da Justiça sendo considerado unanimidade por sua sabedoria jurídica .Ele era de família religiosa, praticante respeitado no âmbito da Igreja Católica desde se 1933 , quando defendendo a LEC -Liga Eleitoral Católica .Esse lado do seu perfil foi importante no movimento de 1964 (embrião da revolução), sendo ligação entre o Governo Militar e os membros da Igreja Católica participando da “Marcha pela família com Deus pela liberdade” em manifestação popular que reuniu  nas ruas do Rio de Janeiro um milhão de pessoas, contra o governo esquerdista de Jango. Junto ao Governo Federal patrocinava encontros e  eventos envolvendo o líder da Varig com a presidência da República; Com Castelo Branco não foi diferente. A aproximação com o presidente  era fundamental para os destinos da  “Pioneira.”

Sempre que havia encontro com figuras marcantes, presidentes, governadores, políticos, Adroaldo levava Berta e com ele o magnifico CTG Pagos da Saudade, formado por funcionários da Varig, que tinha no início o acompanhamento do folclorista Paixão Cortes Foi o caso da recepção prestada pelo presidente Castelo Branco, tendo como de costume a presença de Adroaldo Mesquita da Costa, intermediando o encontro e repassando ao presidente um mimo oferecido por Berta A escolha da Varig em substituição a Panair foi um jogo político realizado em vários capítulos, e por razões diversas onde a figura de Mesquita da Costa quase sempre se fez presente. Ele não escondia sua admiração por Ruben Berta: “Um verdadeiro patriota. Homem sem ambições maiores, a não ser o fortalecimento da organização que liderava”

Adroaldo promovia encontros da Varig com governantes e levava Berta à tiracolo com o CTG dos funcionários , que encantava com seu folclore gaúcho

Sem a presença de Mesquita da Costa dificilmente a companhia gaúcha, mesmo sendo exemplo de eficiência técnica e qualidade administrativa, não teria alçado voos tão altos, Em fins de 64, a Varig buscou financiamento para adquirir mais alguns aviões intercontinentais capaz de reforçar suja frota visando  o aproveitamento para futuros voos na Europa, um sonho idealizado por Berta. O pedido foi negado por um banco norte-americano que comunicou ao governo brasileiro de que a Panair fizera solicitação semelhante para a compra dos DC-8 e até o momento não tinha honrado o compromisso. deixando de pagar as parcelas acordadas no contrato.

Esse fato, a partir de janeiro de 1955, quando o  Brigadeiro Eduardo Gomes assumiu o Ministério da Aeronáutica, fez com que o governo viesse a controlar de perto a vida da Panair. Teve então inicio um processo investigativo com os resultados repassados ao presidente Castelo Branco, tal era a gravidade dos fatos. Preocupado com a situação da aviação comercial no pais, Eduardo Gomes reuniu um grupo de militares de alto nível para discutir o assunto e achar solução compatível com o grau de dificuldade que o assunto exigia. Um dia depois, segundo relato que me fez Harry Schuetz, foi solicitada a presença de Berta e do presidente Ribeiro |Dantas, da Cruzeiro, para uma reunião cercada do maior sigilo O encontro realizado no Ministério da Aeronáutica foi coordenado por Eduardo Gomes, tendo participado ainda um grupo de militares altamente credenciado. Ficou claro, após uma exposição de motivos, que a situação da Panair era insustentável e seriam tomadas medidas drásticas, coisa recebida sem contestação pelos presentes. O assunto foi imediatamente levado ao conhecimento do presidente Castelo Branco, confirmando  a decisão do seu colega de farda, sem restrições. Segundo palavras textuais do brigadeiro, a não aceitação da proposta pela Varig de assumir as linhas da Panair, representava a implantação  da Aerobras, coisa que aterrorizava Berta.

Na saída, o presidente da Varig trazia no rosto  a surpresa da decisão favorável que lhe concedia a concessão tão sonhada e a reponsabilidade de ser a única empresa de bandeira da aviação comercia brasileira, detalhe que alterava seus planos. A tarefa exigia de Berta  algo acima do imponderável – esperava dividir os encargos entre duas empresas de bandeira ( com a própria Panair) Agora, teria que absorver uma congênere esfacelada, com dividas impagáveis e administrar um grupo de milhares de colaboradores, preocupando a sua inclusão nos conceitos da Fundação dos Funcionários, numa integração conturbada de administrar. Era um doce abacaxi a ser saboreado mordendo a casca, sem quebrar os dentes.

Berta e Castelo Branco O sorriso da escolha única, virou preocupação

A morte prematura de Berta, foi um golpe que a Varig custou a digerir.  Mais uma vez a figura do anjo salvador apareceu  como balança equilibrando a dor da perda  irreparável, No féretro, colocando palavras sabias de acalento, deu mensagem de esperança e resignação :- A beira do tumulo foram prestadas significativas homenagens-  Na derradeira saudação,  Adroaldo Mesquita da Costa, Consultor Geral da República e um dos fundadores da Varig, finalizou com uma frase lapidar – “Berta foi um homem genial  que enobreceu a raça humana.”

Junto ao túmulo a frase lapidar proferida por Mesquita da Costa deixou gravada em letras de ouro a imagem de Ruben Berta

Na Assembleia do Colégio Deliberante, logo após o falecimento de Berta,  (dezembro de 66) coube ao dr.Adroaldo a leitura da mensagem deixada por Berta, como que antevendo uma despedida, pregando união entre o grupo declarando que seu sucessor, Erik de Carvalho, estava pronto para assumir os destinos da Varig. A passagem do bastão, como não poderia deixar de acontecer, coube mais uma vez a Adroaldo Mesquita da Costa, figura certa que sempre norteou a Varig nos momentos cruciais da empresa, seja de imensa alegria ou profunda tristeza.

Na posse, Erik de Carvalho recebe o abraço de Mesquita da Costa, em nome dos membros do Colégio Deliberante, atendendo os presságios de Berta.
Adroaldo Mesquita da Costa foi distinguido pelos seus pares para ler a mensagem que Berta havia preparado instantes antes de sua morte, ainda na mesa de trabalho, no Rio de Janeiro. Nela o presidente antecipava certezas e dificuldades.
Helio Smidt , último presidente histórico da Varig e Adroaldo Mesquita da Costa (91 anos) – encontro derradeiro de dois ícones na metade dos anos 80
Fundação Ruben Berta – A proposta de Erni Silveira Peixoto é aclamada de pé pelos membros da Assembleia, trazendo momento de profunda emoção. A lenda eterniza o nome.

 

ADROALDO MESQUITA DA COSTA

ADROALDO MESQUITA DA COSTA

Com Meyer – Salvando a Varig do extermínio ( Parte 2/3)

“Convocarei a Assembleia Geral, dissolverei a Varig e em manifesto ao Rio Grande do Sul, darei as razões do meu procedimento.”

A Varig desenvolvia sua atividades rotineiras de uma empresa aérea pioneira, até o ano de 1930, quando iniciaram os movimentos revolucionários em nosso Estado.. A 24 de abril de 1930, quando Oswaldo Aranha se encontrava à frente da Secretária do Interior do Rio Grande do Sul e preparava a revolução deflagrada a 3 de outubro, firmou  contrato com a Varig, em nome do Estado gaúcho e em que ela foi representada pelo diretor  presidente, Sr Otto Ernest Meyer e seu diretor – técnico, Walter Peschel.

Flores da Cunha era o Interventor Federal do Estado – dependia dele o “canetaço” da vida ou morte da Varig.

Ao ato se encontrava presente o dr Francisco Campos, secretário do Interior de Minas Gerais – na ocasião o contrato estipulava de que o governo cederia, pelo prazo de 20 anos, com opção para mais 20, o campo de Gravataí para uso e administração da Varig, fornecendo recursos financeiros no montante de 399.000$000 para o acabamento deste; a construção de um hangar e respectivas instalações essenciais, e finalmente lhe poria à disposição até 186.000 dólares, para que lhe adquirisse 4 aviões terrestres de passageiros do tipo Junkers-F-13, – 2 aviões de correio e carga e 2 e outros 2 para instrução, mediante a entrega de 1.050 de suas ações. assumiria a construção de outros 6 aviões e manteria uma escola de aviação, onde seriam matriculados, anualmente, a título gratuito,  até 10 alunos da Brigada Militar.

Meyer e Adroaldo – Um abraço do tamanho da história que ambos construíram juntos

Deflagrada a Revolução a 3 de outubro de 1930, seguiu Oswaldo Aranha para o Rio de Janeiro, a fim de ocupar o Ministério da Justiça, enquanto Flores da Cunha assumia a Interventoria  Federal no Estado. Posteriormente, a Varig buscou o cumprimento do contrato junto ao Interventor Federal, encontrando sempre muita dificuldade. O próprio Oswaldo Aranha escreveu para Flores uma carta, que entre outras coisas afirmava categoricamente: “Seria um crime desamparar a Varig, Flores, quando o seu reerguimento está em tuas  mãos e ela reclama do Governo apenas o cumprimento de um  compromisso. No fim do mês corrente se reunirá a Assembleia dos credores e ela será obrigada a desaparecer se o Estado não  acorrer em seu auxilio. Estou certo que não permitiras que isso suceda, e assim sendo, terás o teu nome ligado a mais um ato de justiça e benemerência”.

Foto histórica nos 25 anos da Varig – reunindo a cúpula da empresa. Na primeira fila, nas extremidades, as figuras sagradas de Otto Ernest Meyer e Adroaldo Mesquita da Costa. No fundo, Ruben Berta – o passaporte para o mundo.

Entretanto, nada modificou a situação. Em 1ª de outubro de 1931, o major Alberto Bins renunciou a presidência do Conselho Fiscal, cargo que passei a ocupar. Como havia nesse espaço todo de tempo ocorrido propostas e contra – propostas de ambas as partes, sem que nada ficasse resolvido, enviamos a 19 de outubro um ofício ao Interventor tentando uma pronta solução e pedindo uma resposta até o dia seguinte à noite, Terminado o prazo previsto e dado nenhuma resposta, escrevi um bilhete ao General Flores da Cunha, com a seguinte declaração: ” Se dentro de 24 horas, a Varig não receber o que lhe é devido, convocarei a Assembleia Geral, dissolverei a Varig e em Manifesto ao Rio Grande do Sul, darei as razões do meu procedimento. Deixei a carta no Palácio aos cuidados do senhor João Antunes da Cunha, após dar-lhe ciência do conteúdo e voltei a casa. Imediatamente o telefone tocou. Era o senhor Antunes que, em nome do Interventor, pedia o meu comparecimento imediato à sua presença. Larguei o fone e dirigi-me ao Palácio, pois morava numa grande casa na rua Riachuelo. ao lado do Solar dos Câmaras.

O Flores da Cunha cumprimentou-me visivelmente agastado, e a mim se dirigiu nestes termos: “O senhor é um caso sério para o meu governo”. Ao que lhe retruquei de imediato: Eu não, a Varig talvez”. E prosseguiu: “Que quer oi senhor de mim? Respondi-lhe::”:Mas este contrato não tem nenhum valor jurídico?” Contestou- me Era necessário que a Assembleia o tivesse aprovado  e ela foi dissolvida, sem que tivesse pronunciado a respeito. Isso na opinião de V. Exa, respondi-lhe: “para mim o Estado tem obrigação de cumprir o que trata” – Ademais, prosseguiu Flores da Cunha, esse processo que o senhor se refere. não está comigo.”,  Obtemperei – me “Estou informando que encontra-se nos seus aposentos, para onde foi remetido.

Personagens marcantes no crescimento da empresa, na época pioneira, receberam de Berta o reconhecimento da Varig, com a cessão do Passe Livre (agosto de 1950) como o conferido ao dr, Antonio Augusto Borges de Medeiros, pelos relevantes serviços prestados a organização

“Comigo? indagou-me surpreso? Eu, confirmando a informação, ele mandou chamar o João Antunes da Cunha e dele indagou  o paradeiro do processo. Informado de que realmente o documento se encontrava em seu quarto, de como havia declarado, que o mesmo fosse trazido  à sua presença, Ao recebê-lo, entregou-me com estas palavras : Vai ter com o Maciel. Ele que o examine e decida.” No mesmo instante dirigi-me à Secretaria da Fazenda, para relatar ao dr. Francisco Antunes Maciel tudo quanto ocorrera. Após o parecer do Procurador Fiscal, dr. Carlos Heitor de Azevedo,, meu saudoso colega de turma, foi-me, então, transmitido pelo dr. Maciel Junior o almejado despacho – ” Pague-se” Ao restituir-me o processo disse-me sorrindo: “Agora vê se consegue a assinatura do Flores. E, eu, felizmente, a obtive. Assim a Varig pode continuar a existir.

No dia seguinte a empresa recebia do Estado 1.200 contos de réis. Dias depois assinava novo contrato com o Governo  Em 11 de novembro por designação do Secretario da Fazenda, o Major, Alberto Bins,  era nomeado Fiscal do Governo junto a empresa .Em 1932, em Assembleia Geral foi determinado que enquanto fossem vivos, teriam passagem gratuita na Varig .por relevantes serviços prestados a aviação comercial brasileira, nomes consagrados como Flores da Cunha, Major Alberto Bins, João  Antunes Maciel, Oswaldo Aranha e dr, Borges de Medeiros. Para surpresa minha fui incluído nessa relação.

(Parte 3/3)- Com Berta – Informações sigilosas e a aquisição da Panair

ADROALDO MESQUITA DA COSTA

ADROALDO MESQUITA DA COSTA

UMA FIGURA LENDÁRIA

Do pioneirismo aos anos dourados da Varig (Parte 1/3)

Em função da minha atuação como jornalista na Varig tive a honra de  usufruir do convívio com o dr. Adroaldo Mesquita da Costa, figura influente  e decisiva na história da Varig. Quando iniciei a editar o Boletim do Museu Varig, logo em seu segundo número, em 1979, fiz uma entrevista que ficou gravada nos anais do pioneirismo da aviação brasileira. Nasceu daí um relacionamento que me deu subsídios para entender e conhecer em detalhes o que foi  a empresa que ele ajudou a  fundar, juntamente com Otto Ernest Meyer, criando, como advogado, os Estatutos da Varig, que nortearam a constituição definitiva da companhia, em 1927. Depois, “com o andar da carruagem” como ele afirmava, considerado os desdobramentos que deram o comando a Ruben  Berta e Erik de Carvalho, manteve – se sempre ligado à Varig, até sua morte, na véspera de completar um século de vida (1885/1985)

No pioneirismo, ajudando Meyer a construir o sonho de criar a Varig

Eu já o conhecia antes, mas não tão de perto, e já admirava sua postura e facilidade de comunicação. O dr. Adroaldo, (como todos nós, respeitosamente, o chamávamos), era uma pessoa fascinante. Dominava a oratória de uma forma mágica. Iniciava seu discurso falando calma e pausadamente. A medida que avançava no desdobramento do assunto suas frases tornavam-se repletas de posturas retóricas e o tom aumentava progressivamente, contagiando a todos. O silêncio era absoluto e no final os aplausos brotavam tomando conta da plateia.

Sempre que havia na Varig um evento com a presença de autoridades convidadas, o dr. Adroaldo era escalado para falar, dividindo o palanque com Berta. Na verdade, além do presidente, a Varig, não tinha nem um dos seus diretores com aptidão para discursar em público, situação provavelmente, originária da castração do próprio comando da empresa. Era certamente uma figura carimbada do meu álbum de atrações, já contemplado para entrevista no segundo número do Boletim do Museu. Nesse primeiro encontro ele atendeu o convite e solicitou que o fosse visita-lo  em sua residência. Então, me contou coisas espetaculares, que para meu gáudio  logo repassei ao meu público alvo.

Nos Anos Dourados, com Berta, – baluarte das grandes conquistas

” Em 1927 eu morava na rua da Ponte, número 1228, numa casa alugada em que pagava trezentos réis.-  num belo dia me aparece o sr. Otto Meyer. do qual eu havia sido advogado um pouco antes para fazer um contrato entre ele e seu primo. O negócio referia-se  ao escritório de representações que ambos abriram nos altos do Mercado Público. Nesta ocasião ele me falou objetivamente: “Olha. dr. Adroaldo, eu pretendo fundar uma empresa de aviação aérea aqui no Brasil. Fui piloto aviador na Alemanha e lutei na guerra até fins de 1918”. O Meyer contou sua história de como veio para o Brasil e como amava esta terra. Falou-me, detalhadamente, como queria formar a empresa aérea. Consultou-me , então, sobre a legislação vigente na época. A lei brasileira sobre o assunto havia sido feita há três anos antes, e eu, naturalmente, estava em jejum na legislação, porque a Varig foi a primeira empresa aérea criada no Brasil. A conversa prosseguia. Ele então me disse que pretendia colocar, primeiramente, uma linha de Porto Alegre a Pelotas e Rio Grande. O capital seria de 1000 contos de reis, divididos em ações de 200 réis cada uma.

No Museu Varig, o templo da história, a amizade entre nós ganhou força

Na oportunidade, Meyer me contou que havia recebido um grande incentivo do major Alberto Bins, prestigiado político na época. e Arthur Bromberg  entusiastas da aviação,  reuniram o capital de 1000 contos de réis. entre a colônia alemã e italiana do Estado. Com esse capital comprou-se dois hidroaviões  – O  Atlântico e o Gaúcho. Prosseguindo a nossa historia – “neste tempo, em 1927, o Carlos Maria Bins havia se formado e veio trabalhar comigo. Eu e ele concluímos os primeiros estatutos da Companhia  em pouco tempo. Várias reuniões preliminares eram realizadas nos escritórios da Casa Bromberg e feita a Assembleia Geral á 7 de maio de 1927, fundou-se oficialmente a Viação Aérea Rio Grandense. “Eu não era nada da empresa, apenas um advogado iniciante”

A constituição definitiva da Varig, expressa nos seus Estatutos, passou pelo talento do jovem advogado

VARIG VIROU CARNIÇA PARA URUBUS A PARTIR DE DECISÃO GOVERNAMENTAL

VARIG VIROU CARNIÇA PARA URUBUS A PARTIR DE DECISÃO GOVERNAMENTAL

 

Como Lula e Dilma foram citados no imbróglio

Para o deputado Paulo Ramos que investigou e presidiu o chamado “Caso Varig”  (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), o evento reuniu uma série de crimes praticados por todos os envolvidos no processo de compra e venda da Varig e da VarigLog. Para ele a Varig,  na época, a partir de uma decisão governamental. se transformou numa grande carniça em torno da qual os urubus se organizaram com o objetivo de obter lucro fácil,

Em depoimento prestado no  CI ( Comissão de Inquérito)  Denise  de Abreu,  ex –  diretora da Agência Nacional de Aviação Civil ( ANAC) órgão que regula a aviação comercia no pais, confirmou denúncias de que havia sido pressionada pela ministra Dilma Rousseff da Casa Civil da Presidência da República, para beneficiar o grupo  Matlin Paterson  na operação da compra da Varig. .Ela também acusou o compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o advogado Roberto Teixeira de ter praticado tráfego de influência ao usar o nome de Lula para “abrir portas” e assim beneficiar o grupo  Norte -Americano

Denise também informou que Roberto Teixeira pressionou a ANAC  para dispensar os três sócios brasileiros, Audi, Gallo e Haftel de apresentarem documentação comprovando a capacidade econômica financeira deles. Pela legislação  brasileira 80% do capital aportado em negócio envolvendo  companhia aérea brasileira,  deve ser nacional. Os três chegaram a ser acusados de atuarem como ‘laranjas” sendo afastados da direção da VarigLog por acusação de gestão temerária,

Comandante diz que que a venda da Varig foi uma fraude. Ao depor na quarta-feira (09/07/2008) na Comissão de Serviços de Infraestrutura (CI), o presidente da Associação dos Pilotos da Varig (APVAR) comandante Elnio Borges Malheiros, classificou de fraude a venda em  2006, da companhia aérea VARIG para a VARIG LOG (empresa logística e transporte de cargas ) controlada pelo fundo de investimentos  norte – americano MATLIN PATTERSON, junto com três sócios brasileiros- Marco Antonio Audi, Luiz Gallo e Marcos Haftel. Segundo os três brasileiros eram apenas  testas –  de – ferro reunidos na VOLO DO BRASIL

Para o comandante Élnio a operação da venda foi apenas  “‘entrega graciosa” de uma empresa brasileira a um grupo estrangeiro, o que é ilegal. Ele chegou a garantir aos senadores que, atualmente, “ninguém sabe quem são os verdadeiros donos da Varig e quem está atrás do fundo norte -americano Matlin Patterson” O comandante também estranhou  não ter havido, por parte do governo brasileiro, – incluindo o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva – apoio para que os funcionários da Varig, em conjunto com a Lan Chile, pudessem adquirir a empresa, apesar das garantias do pagamento  da dívidas trabalhistas e tributárias orçadas em R$ 7 bilhões A justiça, mesmo assim, observou ele ,deu preferência ao grupo Matlin  Patterson que não honrou a divida.

Instado pelo líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), o comandante classificou de “infelizes” as intervenções do governo no processo de compra e venda da Varig e da VarigLog. Para ele o governo em nada ajudou a Varig a se recuperar, mas apenas abriu caminho para a realização de um bom negócio Segundo Agriipino, a Varig foi vendida para a VarigLog por U$$ 24 milhões. Oito meses depois, acrescentou, a empresa foi vendida a Gol por U$$ 320 milhões. Sem a presença na reunião do representante da base do governo, o comandante Élnio chamou de “farça” o plano de restauração da Varig. Como exemplo, afirmou que até agora nada foi pago aos ex-funcionários e que o Fundo de Pensão Aerus “está destruído” Durante o depoimento,  o comandante  denunciou o que chamou de processo de desestruturação das companhias aéreas brasileiras. Segundo ele, tanto a Gol como a TAM “vão muito mal das pernas” Élnio garantiu que as empresas nem sequer suportam uma inspeção séria.

* Matéria liberada pela Agência Senado (.09/07/2008)

PADRONIZAÇÃO DA FROTA

PADRONIZAÇÃO DA FROTA

A solução que Berta idealizava e não teve tempo de realizar

Uma frota única representava milhões de dólares em poupança.

Um super hangar foi construído em 1955 para abrigar o Super Constellation e dar condições para a equipe de manutenção realizar um serviço de alta tecnologia.

Com os aviões comprados diretamente da fábrica pela primeira vez  em 1955, Berta vislumbrou o caminho para uma frota mais homogênea com infraestrutura de hangar especialmente construído e pessoal técnico com treinamento específico aumentando a qualidade de serviço . O sonho, no entanto, durou pouco. Logo depois do Super Constellation  chegaram o Caravelle e o Boeing -707 , todos construídos por fábricas diferentes, agravando ainda mais o problema  da padronização.

O Caravelle, com apoio do presidente Juscelino, deu para a Varig o pioneirismo da era do jato no Brasil

A Varig crescia – Berta tentava unificar a frota mas as circunstância  não favoreciam. Por uma série de dificuldades pontuais nem sempre as aeronaves disponíveis, incluindo a negociação, eram do mesmo fabricante. A concorrência avassaladora não dava tempo para esperas. Era pegar ou largar. E o sonho da igualdade da frota, com equipamentos da Lockheed, Sud Aviation e Boeing, além de outros fabricantes, ficava cada vez mais distante. Nem sempre querer é poder. Berta sabia que uma empresa com frota padronizada representava incrível avanço operacional. Poderia concentrar conhecimentos e capacidade técnica em um único equipamento. reduzindo tempo de treinamento e mão de obra simplificando as tarefas.. A tripulação e o pessoal da manutenção poderiam operar com muito mais eficiência e qualidade. Haveria uma acentuada redução  do número de peças estocadas nos almoxarifados. O serviço da pista ganharia em agilidade.

Berta e o Boeing – 707 / Jato que mostrou ao mundo o melhor serviço de bordo e uma manutenção impecável alavancando uma trajetória vitoriosa

Com voos para o exterior teriam reduzidos os trabalhos nas bases, diminuindo  a necessidade de manter gente especializada para cada tipo de equipamento, tudo com peças, motores, hélices e turbinas sobressalentes, gerando um custo extravagante dada a diversidade de material. Concentrar conhecimento e capacidade de mobilização em uma frota única representava milhões de dólares em poupança, objetivo  que Berta perseguia mas não conseguia atingir. Ficava entre a cruz e a espada. A Varig tinha pressa para crescer Precisava enfrentar a modernidade da concorrência. Correr riscos era a solução mesmo sabendo da dificuldades. Não  havia tempo hábil para vacilação. No entanto a padronização da frota  tornou-se cada vez mais complicada. Na era Berta a Varig utilizou dezenas de aviões de fabricação diversificada, o que sempre dificultou seus ganhos na área internacional.

Sorriso encabulado de Berta na frente do Electra – avião inicialmente rejeitado pelo presidente que se tornou um ícone na historia da nossa aviação

Em 1966 a companhia tinha sete aviões de três tipos de células e três tipos diferentes de turbinas, além da diversidade existente na frota doméstica. resultado da absorção da Real e da Panair. Alguns dias antes da morte prematura de Berta ( dezembro de 66) ele garantiu em documento em nosso poder que  “a empresa só se curará desse mal quando fixar a padronização para dois tipos de jatos ou possivelmente de um a  três tipos de aviões domésticos, em lugar dos sete hoje existentes, coisa prevista para acontecer em meados de 1968, quando inclusive a empresa espera abrir mão das subvenções do governo brasileiro”. 

Com o ingresso do Convair 990 A e sua modernidade, a Varig completou um ciclo que a consagrou como líder na América Latina, apesar das dificuldades da falta de padronização da frota nos anos 60