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Mês: Dezembro 2023

PAPAI NOEL – BERTA E A TELEVISÃO ( Uma historinha agridoce)

PAPAI NOEL – BERTA E A TELEVISÃO ( Uma historinha agridoce)

A CHEGADA DA  PRIMEIRA TELEVISÃO LÁ EM CASA TRANSFORMOU NOSSO NATAL  

Berta, como sempre, na época de Natal,  gostava de surpreender  o pessoal com alguma coisa diferente. Desta vez o presente seria capaz de superar qualquer expectativa pelo inusitado, causando alvoroço.  A TV Piratini, canal 5, havia sido inaugurada em Porto Alegre (20 /07/59) , afilhada à Rede Tupi, com antenas da televisão aberta  situadas no morro da Polícia. Ele comprara nos Estados Unidos, por preço de ocasião, um lote dos modernos aparelhos, como sobra de guerra, usados pela marinha americana, com tecnologia avançada. Alguns eram sorteados, outros  oferecidos no armazém (em seguida transformado em Supermercado) por preço de custo, em módicas prestações, inaugurando um sistema de comercialização inovador.

Eu, a Geny e nossos filhos –  Nato, Doca e Beto  –  euforia do Natal, nos anos 60 – alegria de uma família feliz  que sempre acreditou no amor.

A chegada da primeira televisão lá em casa, transformou nosso Natal num dia de festa continua, compartilhado pela vizinhança, curiosa para conhecer a novidade. A distribuição dos presentes era um momento patético. O Papai Noel aparecia de surpresa, causado pânico nos três filhos, Beto, Nato e Doca – especialmente nele – que era o mais jovem (mas também o mais esperto)  “O bom Velhinho” aparecia do nada, batendo firme no chão com seu bastão de comandar as  Renas (que eles nunca viam) criando um clima assustador, que depois se transformava num momento de paz e amor, quando retirava do enorme saco  vermelho que levava, os presentes encomendados, num festival de alegria.

O Papai Noel que nos visitava era sempre o mesmo – vizinho chamado Shimitz (não garanto a grafia, mas o som era esse) que aparecia transformando-se na figura. Com o passar do tempo, por mais que mudasse seu comportamento (falando grosso, com  voz rouca) para impressionar e disfarçar sua verdadeira identidade, acabou sendo desmascarado pelo próprio Doca, sempre o mais apavorado. Espertamente, mantiveram  o segredo da farsa considerando as vantagens inerentes, passando de ludibriados à ludibriadores. A televisão, marca GE, blindada, existe até hoje (funcionando) guardada no meu museu  (mania) particular. Agora, a missão é alegrar a bisneta Laurinha, filha do Lucas e Gabi, refazendo com novas personagens antigos momentos –  mantendo viva a tradição da arvore de Natal (que o comercio não deixa acabar) descobrindo um novo “Bom Velhinho” – coisa rara na praça.


25 ANOS DA VARIG   —  (publicação anterior com índice espetacular)
AOS AMIGOS PARA SEMPRE
CEM MIL ABRAÇOS EM 2024
LEMBRANÇA DE UM  NOME 
INFINITO TRAZENDO CHAMA 
QUE NÃO SE APAGA
VARIG ACIMA DE TUDO VOCÊ
OS 25 ANOS DA VARIG

OS 25 ANOS DA VARIG

BODAS DE PRATA FOI  ANO DE OURO PARA A VARIG

Berta era presidente de fachada para o público externo, até que o milagre aconteceu.

1952 – Ano rico para a Varig, mas… coisas estranhas ocorreram.

Uma boa foto vale mais do que mil palavras, adagio popular que se encaixava como uma luva, revelando um episódio até então, desconhecido na história da Varig.
Berta, que se auto elegera presidente, ao criar a Fundação dos Funcionários, era contestado pela cúpula pioneira da empresa, que esperava pelo retorno de Meyer – coisa que nunca aconteceu. Quando comemorou seus 25 anos de fundação a Varig viveu momentos de euforia e revelação de segredos de economia interna até então marcados pelo sigilo, vieram à tona. – Uma foto incrível guardada a sete-chaves nos arquivos de Meyer – ao qual tive acesso por concessão da família – revelava por si só uma verdade jamais concebida com relação a situação desconfortável vivida por Berta, quando presidente da Varig
Em posição de honra figuravam comodamente instalados, personagens da época pioneira da empresa, entre eles Otto Meyer, ainda carregando  a pecha dos resquícios da guerra que o afastariam para sempre da direção da Varig. O fato notório revelava a permanência de Berta na última coluna, (também pioneiro histórico) junto com os colaboradores comuns, num sinal de desprezo ao fato de ser o presidente legitimo da Varig, sendo ignorado, numa situação de constrangimento absurda, não considerada.
Berta respondeu com trabalho incansável e uma estratégia avançada equivalente as mais modernas cabeças pensantes da época.. O grande momento andava em passos largos para uma realidade que a Varig sonhava – ampliar seus voos para rota internacional de longos trajetos. Foi um presente dado por Getúlio Vargas, considerado a última gauchada do presidente, que Berta teve muito a ver com isso.

A Varig era então, praticamente, uma companhia regional com um único destino no exterior chegando ao Uruguai e Argentina, vivendo com um futuro incerto. Voar para Nova York era um presente caído dos céus que ultrapassava qualquer vantagem. .Getúlio definiu com autoridade (talvez mesmo não acreditando que milagre acontecesse) o pouco tempo disponível (dois anos) obrigando Berta a fazer o impossível acontecer. O relacionamento de Vargas com Berta cresceu quando isolado na granja de Itu, recebeu inúmeras visitas do homem da Varig, discutindo com ele o futuro da aviação comercial, na certeza de que Getúlio  voltaria a comandar o Pais.
 
Quando a notícia da concessão se tornou pública houve descredito total, especialmente das congêneres, que não viam na Varig capacidade de assumir a bandeira do Brasil no Exterior, em rotas que exigiam um complexo operacional que julgavam a Varig não possuir. A companhia viveu um momento estranho com presidente tipo para “inglês ver” Berta, no entanto, ocupava o cargo criado por ele ao inventar a Fundação dos Funcionários, numa estratégia consentida, talvez única, capaz de salvar a empresa gaúcha do extermínio, que se avizinhava â qualquer momento.. Tornava-se um presidente que era, não sendo, de carácter interno, tomando decisões secretamente orientadas pelo aval de Meyer
 
Mas, já no mesmo ano, a foto mudou de cara – Respaldado por Getúlio Vargas, Berta conseguiu tornar um sonho acalentado, numa realidade palpável. Porém, muita coisa inimaginável, até então, deveria ser feita – e tudo tinha tempo certo para começar e terminar. O governo precisava ter um representante imediato para colocar   novamente a bandeira do Brasil no topo do mastro em grandes trajetos internacionais –  até então, cobrindo apenas os países vizinhos  da Argentina e Uruguai.
Berta dispunha de apenas 2 anos para transformar a empresa regional num gigante internacional e com isso dar uma demonstração de força que faltava para ser aceito como líder absoluto, sem contestação. Foi o pulo do gato. Assumiu realmente sua posição de presidente, fazendo o milagre acontecer e se multiplicar, alcançando o patamar de liderança –  varrendo aquela ideia que era apenas o guri prestigiado por Meyer.
Berta no Super Constellation  Duas estrelas
O  resultado já é de conhecimento geral – Berta cumpriu todos os requisitos. Em 54 o Caravelle incorporou a linha cobiçada de Nova York, dando à Varig o pioneirismo do jato, fazendo cumprir ao mesmo tempo a palavra empenhada com o presidente brasileiro – que, infelizmente, no mesmo ano, nos deixou na saudade, numa ausência sentida incapaz de testemunhar o sucesso do amigo.. Depois, com o Super Costellation, Berta foi apresentado ao mundo, consagrando sua imagem como uma figura exponencial da humanidade,

 

BOLETIM DO MUSEU

BOLETIM DO MUSEU

Transferido para a Propaganda, como Gerente Regional, tive que dar fim aos trabalhos  editoriais na manutenção, abrindo espaço para a criação do Boletim Informativo do Museu Histórico da Varig, além da revista interna Rosa dos Ventos, impressa em Porto Alegre sob nossa direção, com texto bilíngue, circulando no mundo Varig

PLANADOR – O COMEÇO DE TUDO

NA CAPA A PRESENÇA DO PLANADOR – NO MIOLO A AUSÊNCIA DE BERTA E A INIBIÇÃO DOS DIRETORES.

Berta era a única voz falando pela Varig – na sua ausência nem um diretor  assumia esse papel, até que um dia, o improvável aconteceu.  Os diretores silenciaram    mas alguém, mais atrevido, desconhecendo as regras, falou por eles, quebrando um tabu que Berta engoliu sem reclamar

Boletim do Museu Histórico da Varig, surgiu da necessidade de interagir com seu público pioneiro, catando  preciosas informações  que estavam se perdendo no tempo. A capa, como mérito, ganhou a predominância do Planador – o miolo valorizou-se com a entrevista de Paulo Regius, publicitário que viveu na Varig  a arrancada do ostracismo regional na tarefa de mostrar a empresa para o mundo, com revelações inéditas, num “avant premier” do que seria a publicação, que logo alcançou suas metas, tornando-se “coqueluche” da Grande  Família Varig.

Em sua edição de abertura realizada em maio de 1979 ( ainda na gestão de Erik de Carvalho, que fizera a inauguração do Museu em 71) a primeira capa do BM contava a história dos Planadores, que tiveram função primordial na organização da Varig. A vedete era o Gaivota, construído  na antiga Varig  Aéreo Esporte, onde serviu como instrumento para o treinamento de inúmeros pilotos, que integraram a tripulação dos modernos jatos da empresa. O voo inicial foi realizado em 1937, em comemoração da  Semana da Asa, sendo  rebocado por avião  (Waco C-37), pilotado pelo comandante militar, Maldonado, atingindo a altura máxima de 240 metros, grande feito para a época.

O publicitário Carlos Régius e eu, entramos juntos na Varig (sem nos conhecermos) em  6 de junho de 1954. A diferença ficou no peso da contribuição em momentos diferentes  –  Ele permaneceu por 4 anos, eu por 40 – ambos, cada um a sua maneira, ajudando  a consagrar a marca Varig no mundo .Régius era originário da agência Clarim, tendo sido contratado para preencher a vaga de Superintendente de Propaganda.

Na Edição número 1, juntava-se inusitada entrevista concedida pelo  publicitário Carlos Régius, onde relatava os quatro anos  vividos na Varig (1954 até 1958) que foram  para ele de enorme importância profissional dentro de uma visão nacional –  “dando-me  nova dimensão e amplitude funcional”  Ate então, com raízes na Província passou a ter uma perspectiva nacional – viajando de avião, como se fosse de ônibus. Conheceu todo o pais, de sul a norte. Depois, foi a vez de viajar para ao exterior, de ver e sentir a mentalidade, usos e costumes de outros povos, e estilos de vida.

Acumulando o setor de relações públicas, sucediam-se no dia a dia contatos com importantes personagens do exterior, caravana de agentes de viagens, visitantes e homens do governo recebidos para uma visita as instalações da companhia ou para um churrasco típico no Retiro de Ponta Grossa. Premido pela necessidade, teve que aperfeiçoar seu inglês e alemão, que passou a dominar fluentemente, garante Regius. Aprendi até a falar em público – lembro em que numa determinada ocasião, o governador do  Estado, Leonel Brizola, trouxe do Rio uma caravana de deputados que visitou as instalações e depois lhes foi oferecido um almoço informal. na cantina dos funcionários. Berta estava ausente, tendo viajando para Nova York, envolvido com o desempenho do Super Constellation.

 Na hora H levanta-se o governador, fez uma saudação aos visitantes tecendo ainda os maiores elogios a empresa. Em seguida, falou inflamado o famoso  deputado Tenório Cavalcanti ( equipado com capa, barbicha, lurdinha e outras coisas) dizendo-se impressionado com o complexo técnico da manutenção, considerada por todos como exemplo para o mundo da aviação, dizendo-se encantado com tudo aquilo que acabara de ver. Faltava a palavra da companhia. Dois diretores presentes, tímidos e inibidos, sentenciaram o imperativo – Fala Régius !.O que falou nem ele tem lembrança – só sabe que no final recitou uma frase em 3 idiomas (alemão, inglês e português) demonstrando erudição, que dizia mais ou menos assim : “ A presença dos senhores é como o vinho que bebemos- o ´Néctar dos Deuses” Foi aplaudido e abraçado pelos ilustres visitantes, com os diretores da Varig erguendo vivas com suas taças de cristal. Pela primeira vez, a ausência de Berta não foi sentida, e a  chamada  Fala Régius!  tornou-se  a taboa de salvação para os inibidos diretores da Varig, na  ausência forçada do  presidente.