FRANZ NUELLE – PRIMEIRO EM TUDO

FRANZ NUELLE – PRIMEIRO EM TUDO

FRANZ NUELLE – HERÓI LENDÁRIO DA HISTÓRIA DA VARIG

Convivi com Franz Nuelle, fechando  um ciclo que marcou minha vida com todos os heróis históricos da Varig, e entrevistá-lo para o Boletim do Museu ( N.20/82) foi momento marcante. Até então, para mim, ele aparecia citado nos recortes dos jornais antigos – de repente estava ali, em carne e osso, completando uma saga que me tornava especial como porta voz de uma personagem incrível, que marcara época dando vida à Varig nos tempos do pioneirismo. Reverenciá-lo para  o mundo da aviação foi um feito digno de registro.

Em 11 de janeiro de 1927, Otto Meyer voltou de Hamburgo trazendo documentos que confirmaram a imediata  disponibilidade do comandante Rudolf Krammer  Von Clausbruch, da Lufthansa, e do mecânico de bordo e segundo piloto, Franz Nuelle, da Scadta ( hoje Avianca) para o quanto antes iniciar um serviço regular em Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande –  Linha da Lagoa, pela primeira empresa aérea brasileira. Eles vinham trazendo o hidroavião Atlântico como parte acionária da incorporação da Varig. Foi distribuído um folheto impresso na livraria do Globo, com relatório à fundação da Varig e o projeto do Estatuto, este elaborado pelo dr. Adroaldo Mesquita da Costa, que viria a ser mais tarde ministro da justiça do governo do Marechal  Gaspar Dutra, tornando-se figura notável  deste episódio.

Franz Nuelle participou de todos os episódios da fundação da Varig, enriquecendo o Museu com acervo precioso

No Museu, a presença de Franz Nuelle ficou marcada. A entrevista com o comandante pioneiro da Varig rendeu um crescimento significativo para o acervo, revelando momentos até então perdidos no tempo. Portador de diversas condecorações, seus feitos levaram –  no a receber do governo colombiano a mais alta distinção oferecida no país – Cruz de Boyaca e outras tantas.  Em julho de 1977, comemorando o cinquentenário do primeiro voo da aviação comercial brasileira, realizado na cidade de Rio Grande, lhe prestou diversas homenagens, entre elas outorgando-lhe duas placas de bronze alusivas ao feito histórico vivido na região .Foi considerado sócio honorário do Sindicato Nacional dos Aeronautas e Patrono da APVAR (Associação de Pilotos da Varig).
Deflagrada a revolução de 30, com a presença de Getúlio Varga, e Oswaldo Aranha, o governo do Estado requisitou os aviões  e a tripulação da Varig. Na atividade, Nuelle e Oswaldo Aranha,  realizaram diversas incursões a serviço dos revolucionários, não só no território gaúcho mas também no Rio de Janeiro, na época capital federal, além de Montevidéu e Buenos Aires, aliciando aeronaves, pilotos e farto material de munição para a causa liberal.
Contando com a perícia de pilotos formados pela VAE , como Carlos Ruhl e Geraldo Kinippling o Junkers F-13 salvou a Varig do extermínio

Cessada a revolução a Varig buscou retornar as suas atividades regulares, mas lhe faltavam condições, coisa que somente viria a acontecer quando o presidente do Estado, General  Flores da Cunha, cumpriu a promessa de apoio incondicional, repassando subsídios, junto com a aquisição de dois Junkers F-13, dando o impulso prometido que teve o último capítulo com a concessão de Vargas para a linha de Nova York, pioneirismo realizado pelo Caravelle em 59, lançando  a  Varig para o mundo.

Com o Junkers – A 50 a Varig sofreu o primeiro acidente fatal, com a morte do acompanhante em instrução e ferimentos que afastaram Franz Nelle de sua carreira brilhante na Varig

Em 1931,  Nuelle sofreu acidente de consequências trágicas, com a morte do acompanhante, causando-lhe  sérios ferimentos com as duas pernas quebradas resultando na amputação de um pé, substituído por uma prótese. Fazendo a função de instrutor  ensinava o aviador João Carlos Gravé, candidato a uma  vaga na Varig – rota do Correio Aéreo. Nuelle, alojado na poltrona traseira,assumiu o comando do Junkers A-50, prefixo P-BAAE (primeiro avião terrestre da Varig) Em Rio Grande, durante a decolagem, o mapa de bordo caiu por uma fenda  da madeira, bloqueando desse modo seu manche. Tal incidente, apesar de todos os esforços do comandante da Varig, ocasionou a queda do pequeno aparelho, na ilha dos Mosquitos, com perda total. Ficava então a Varig, sem avião e sem piloto, devido a incapacidade física do seu único comandante.

Franz Nuelle abandonou a aviação, voltando para a Alemanha, por  onde permaneceu em tratamento de saúde, recluso, vivendo praticamente no anonimato por longo período. Nesse ínterim passou a receber da Varig uma ajuda de custos, oferecida por Berta, pelos relevantes serviços prestados a aviação comercial no Brasil, em especial à Varig, complementada pela Lufthansa. Já refeito, resolveu junto com a esposa retornar ao Brasil, onde deixara um grupo seleto  de amigos, passando a residir na vizinha  cidade de Canoas, para logo em seguida criar o Táxi Aéreo Guarany, com sede junto ao aeroporto Salgado Filho. O velho guerreiro voltava ao ninho antigo cercado pelo afeto e reconhecimento  daqueles que nunca esqueceram o seu valor.

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